terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Diário da Cintura - Capítulo XVI: Corset do Dudu

Diário da Cintura - Capítulo XVI
Corset do Dudu

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2013.

Medidas bem brasileiras
A busca pelo corset de treino perfeito me fez ter mais consciência do meu corpo.
Treinar a cintura por esses 4 meses (CARACAAAAAA!!! Já faz todo esse tempo?!?!?!) trouxe pra mim mais noção das minhas proporções e do tipo de harmonia corporal que eu busco.
Usar o corset todos os dias - até hoje foram pouquíssimos os dias que passei inteiros sem corset. Menos de uma semana se somar todos - modificou meu corpo e também modificou o corset um pouquinho porque, afinal, apesar de ser bastante forte, ele não é completamente rígido.

Falando no corset, mais uma vez preciso rasgar seda para a Madame Sher!
Com mais de 1000 (MIL!) horas de uso, o corset está sem nenhum rasgo, nenhum esgarçado, nenhum ponto rompido, nenhum ilhós solto! Ele está raladinho onde o sutiã roça, onde o cós da calça jeans se arrasta, os cordões estão desfiando um pouco, mas com as horas rodadas desse bichinho era pra estar em frangalhos!
É muita qualidade, genti! Vale a pena economizar e esperar para ter em mão e no corpo um produto tão espetacular assim! :D

Voltando ao meu corpitcho.
É claro que quando passei minhas medidas a equipe da Sher as equilibrou de acordo com um padrão universal. Por isso, apesar de toda a maravilhosidade do corset, faltou um pouquitito para ele me vestir como uma luva.

A grande questão, meu povo, minha póva, é que eu tenho bunda.
Não é uma bundinha. É um bundão! Daqueles bem brasileiros, bem redondos. Quando eu era magrela, a única porção de carne que tinha no meu corpo era um bundão desproporcional.
Não é lombo, é bunda mesmo.
Se fosse lombo, haveria uma porção mais equilibrada de quadril. Mas como é bunda, as carnes são todas lá pra trás. Huahahahaha
 
(crédito da imagem para Falsos Moralismos)
 
A gente está careca de saber que as europeias não tem um pingo de bunda e também de que a maioria - se não todos - dos livros de moldes de corsets foram feitos na Europa ou nos Estados Unidos: outra terra de desbundadas.
Portanto é natural que os padrões de corset não se adaptem assim tão bem às bundas brasileiras.

 
Corset Eduardiano
Enquanto eu estava aqui encafifada, tentando imaginar uma maneira de explicar para a equipe da Sher, que construirá meu próximo corset, que meu corpo tem algumas particularidades, a Lucy publicou um post sobre os corsets Eduardianos.
Para os curiosos, o post é esse aqui (em inglês).

Seguem algumas partes traduzidas marromenos por mim:
"Os corsets Curvados-em-S, de Frente Reta, ou 'Corsets Saudáveis' foram inventados no início dos anos 1900, na era Eduardiana, e popularizados pelas Gibson Girls."
Pra quem quer saber o que são Gibson Girls, nossa amiga Wikipedia tem um verbete só pra isso: Gibson Girl (mas tá em inglês também).
Aqui uma imagem pra exemplificar melhor:

Ideal de beleza feminino proposto por Charles Dana Gibson e imortalizado nas suas lindas gravuras.
(crédito da imagem para Wikipédia)
"Naquele tempo se pensava que os corsets Curvados-em-S eram mais saudáveis para os usuários porque posicionava menos pressão direta na frente do abdômen. Eles também promoviam uma postura mais altiva, já que a pélvis se projetava para a frente e o traseiro para trás, enquanto os ombros e busto eram jogados para a frente, e poderia afetar o caminhar de forma tal que fazia com que as damas rebolassem elegantemente. Entretanto, foi descoberto mais tarde que esse tipo de corset exacerbava a lordose da coluna, então se chegou à conclusão que era pior para a espinha comparado ao corset Vitoriano, que mantém uma postura mais neutra."
"Hoje em dia os corsets longos e de Frente Reta são bem populares, mas foram tipicamente modernizados para se tornarem meramente 'com inspiração Eduardiana' e não causarem ou agravarem a lordose como os tradicionais Curvados-em-S faziam. Eu não aconselho uso regular ou treino em um tradicional corset Curvado-em-S ou Eduardiano, porém, muitas mulheres com lordose natural ou traseiro empinado expressaram para mim que os corsets Curvados-em-S se adaptavam melhor às suas silhuetas."
Assim que li sobre as mulheres de bunda grande que achavam que os corset Eduardianos eram melhores para sua silhueta, meus olhinhos brilharam!
Então fui pesquisar mais sobre esses corsets.

 

Encontrei um outro artigo bem bacana sobre os corsets Curvados-em-S: O Corset Curvado-em-S Contextualizado.
A autora do texto (mais uma vez em inglês) é a Marion McNealy. E ela escreve algumas coisas bem interessantes, que vou traduzir à minha maneira aqui pra vocês.

OBS.: Só um pequeno adendo: quem se interessa realmente por corsets, uma hora ou outra, vai ter que investir em aprender inglês. A maioria do material existente é produzido em inglês e não há muita tradução para o português.
"O corset Curvado-em-S (ou corset de Frente Reta) é provavelmente a mais mal compreendida e mal estudada tendência em corset no espectro histórico da corseteria. O estilo é pouco abordado no repertório padrão de livros sobre corset."
"Como consequência da adoção geral do corset de Frente Reta, a silhueta dos corpos se modificou materialmente, apresentando um aspecto muito diferente daquele de anos antes. Naquele momento não havia curvatura ou estreitamento na parte da frente da linha da cintura ou protuberância para fora sobre o abdômen. O formato correto, não somente para se adaptar à moda, mas também com o objetivo de ser saudável, deveria ter uma linha reta do busto ao abdômen. Acima da linha de cintura o corpo não deveria ser comprimido de maneira alguma; isso não só para proporcionar mais espaço para o aparelho digestivo, como para deixar livre o aparelho respiratório e permitir que os pulmões se inflassem propriamente. A partir dessa grande liberdade para respirar, o peito é involuntariamente inclinado para fora, esse movimento inconsciente endireitando os ombros."
Direções das pressões exercidas no corpo pelos corsets de acordo com o livro Le Corset (1908)
(imagem adaptada de Foundations Revealed)
 "Como se pode ver no gráfico abaixo, as medidas de cinturas eram menores em 1898 (o ápice da era do tight lacing) e os tamanhos foram aumentando durante a era dos corset de Frente Reta. As medidas das cinturas então diminuíram novamente durante a era pós-Eduardiana dos corsets."
(imagem adaptada de Foundations Revealed)
 
A parte seguinte, apesar de retirada do Foundations Revealed, foi escrita por Anna Mary Galbraith em 1911 no livro Personal Hygiene and Physical Training for Women (Higiene Pessoal e Treino Físico para Mulheres, tradução da Gabizinha).
"O corset, quando usado frouxo, é uma grande evolução em relação ao corset curvado. Quando propriamente ajustado, toda a compressão é exercida nos quadris através da parte do baixo abdômen, que é levantada, e a linha da cintura ganha tamanho. Esse corset usa como base de suporte o osso da pélvis, e deve haver espaço suficiente para facilmente introduzir a mão entre a parte baixa do tórax e o corset. Neste caso há uma grande liberdade de movimento de toda a cavidade toráxica, assim a respiração não é nem de perto tão influenciada como no corset de frente curva, e se propriamente ajustado, a parte do baixo abdômen é levantada junto com as vísceras, e, de fato, esse estilo de corset é prescrito nos casos de prolapso dos rins."
"A linha da cintura ocorre abaixo das costelas flutuantes, o que alonga a cintura, produzindo linhas graciosas sem compressão." 
"Mas nem todos os corset de Frente Reta atendem a essas condições. A não ser que sejam longos e bem ajustados sobre os quadris, eles podem falhar em levantar e suportar o abdômen, e quando usado muito apertado sobre o abdômen com o pretexto de escondê-lo, o resultado é a aplicação de uma pressão da frente para trás. Empurrados para baixo, os intestinos encontram uma maneira de escapar pela parte de baixo do corset.
"A frente do corset é frequentemente elevada muito alta, e não deixa a região epigástrica suficientemente livre. O corset precisa absolutamente não ser toráxico, e precisa definitivamente recunciar o suporte dos seios, o que deve ser feito, quando necessário, por um suporte de busto extra. O corset reto longo imobiliza o tronco da mesma maneira que o corset curvo."
Se a gente olhar com carinho, vai perceber que a silhueta do corset Frente Reta é muito semelhante à dos corsets que estamos acostumadas a ver e a usar.
O corset Vitoriano, anterior ao corset Eduardiano, tem uma silhueta muito menos natural e esquisita, com aquela protuberância da pança pra frente. É um visual que eu duvido que qualquer mulher na atualidade queira ter voluntariamente.

Em conclusão, os corsets atuais, com pequenos ajustes, são as soluções perfeitas para mulheres de bunda empinada.
A própria Madame Sher (que é uma diva, uma fofa, uma simpatia e uma humildade que dão muito orgulho de ver) me respondeu sobre as alterações que ela vai fazer no meu próximo corset, assim como não recomendou o uso de um corset Eduardiano original. Meu próximo corset vai ter a frente reta o suficiente e uma inclinação na parte posterior suficiente para dar mais conforto à minha anatomia.

 
Tricotando com a Sher
Mandei tantos e-mails para a equipe com fotos do meu corset atual e sugestões para alterações na modelagem que achei que estava enchendo o saquinho do pessoal.
Mas a Sher me respondeu numa fofura sem igual que não havia problema nenhum e que era até bom ter tantas especificações para que a peça saísse perfeita.

Ainda me contou dos bastidores da confecção do corset de casamento da Dita Von Teese, feito pelo Mr. Pearl. Dita provou o corset 12 vezes até ele estar perfeito!!
A Sher, essa graça de garota, ainda mandou o link da foto. Sente a perfeição!

(crédito da imagem para Tumblr)
 
Curioso? Leia Mais aqui! ►